Conjuntura Internacional
Qual o futuro da política externa?
Por Cezar Roedel, Consultor de Relações Internacionais
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Na coluna da semana passada, alertamos sobre a possibilidade da política externa brasileira do atual governo, em ocasião de visita na China, recair mais na bajulação do que propriamente no pragmatismo. Aparentemente, foi o que ocorreu. Além disso, há as afirmações de Lula que trouxeram um grande desconforto à política externa brasileira, bem como aos seus aliados ocidentais. Ao seguir viagem aos Emirados Árabes, Lula responsabilizou a Rússia (e a Ucrânia!) pela guerra. Aqui parece haver completa ignorância acerca dos princípios do direito internacional público. Assim, Lula acaba aderindo à propaganda russa, que tem afirmado que a vítima é a Rússia. Se não bastasse isso, disse que tanto Estados Unidos quanto a Europa auxiliavam no prolongamento da guerra. Quando na China, Lula também se referiu de forma provocativa ao dólar. A hegemonia da moeda seguiu o curso da história, tornando-se padrão nas transações internacionais, após a Conferência de Bretton Woods, no final da Segunda Guerra Mundial. Lula utilizou o espaço na visita à China para provocar os Estados Unidos de forma completamente desnecessária. A reação não demorou para vir, a Casa Branca lamentou as afirmações. Com isso, Lula também acaba derrubando a possibilidade de um apoio ocidental para que o Brasil eventualmente assumisse uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Lula e seus ideólogos ainda não compreenderam a nova conjuntura internacional e suas complexidades, estando ainda, apregoada a um certo antiamericanismo juvenil.
Resultados
A missão se inclinou muito mais ao espectro ideológico, do que propriamente o pragmatismo necessário ao momento, que exigia ponderação. A China tentou que o Brasil aderisse ao Belt and Road Initiative (o programa chinês para criação de infraestruturas estratégicas na Ásia, África e América Latina). Celso Amorim, em entrevista para um jornal chinês, ponderou que seria possível uma adesão, o que abriria as portas brasileiras aos chineses, em meio a uma nova Guerra Fria entre Pequim e Washington. Foram firmados com a China cerca de 15 acordos. Lula também aproveitou o momento para visitar a empresa chinesa Huawey, banida pelos Estados Unidos e Europa por motivos de espionagem. Mais uma provocação desnecessária que coloca a política externa de um lado apenas, sem considerar a conjuntura do momento.
Efeito Lavrov
A missão do chanceler russo Sergey Lavrov ao Brasil também foi duramente criticada pelos países ocidentais. Na América Latina, Lavrov veio visitar as ditaduras que apoiam inteiramente a Rússia - Cuba, Venezuela e Nicarágua -, colocando o Brasil nessa rota deprimente. Restou da visita a sua afirmação de que o Brasil e a Rússia possuíam uma “visão única” sobre o conflito. Lavrov chegou a palestrar para estudantes do Instituto Rio Branco e autoridades diplomáticas, onde aproveitou o momento para criticar a parceria brasileira com a Alemanha e o Japão, no sentido de reforma do Conselho de Segurança. Receber Lavrov foi humilhante à política externa, ainda mais se considerarmos que o governo sequer cogitou um diálogo com a Ucrânia. A bajulação aos chineses, o antiamericanismo juvenil e a recepção de Lavrov são três indicadores fortes de que a política externa brasileira do atual governo será um verdadeiro desastre. Os tempos mudaram, Lula não.
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